por Fabio Aragao da Cruz e Tomás Fiore Negreiros - Equipe Pedagógica Escola Viva
Quando surgiu a ideia de um grupo de acolhimento para famílias da Escola Viva, não foram poucos os questionamentos que surgiram:
Um grupo de acolhimento?
O que o meu filho tem a ver com isso?
Mais um horário na escola?
Será que meu filho está dando trabalho na escola?
Todas as dúvidas e questionamentos serviram, afinal, como um forte motivador para que um grupo de famílias se fizesse presente naquela manhã de quarta-feira.
Na verdade, o que só agora nos ocorre, é que os questionamentos e perguntas não eram exclusividade das famílias. Na verdade, nós também não sabíamos exatamente como o encontro iria se desenrolar. Nós também tínhamos nossas dúvidas e incertezas.
Será que a proposta da criação de um “grupo de acolhimento” realmente vai “colar”?
Existirá alguma fala muito complexa que teremos dificuldade para elaborar no tempo do encontro?
Existe a chance de se formar um grupo para colocar reclamações que não cabem na nossa ideia original?
Corajosos, fomos adiante!
Respiramos!
Fizemos um esforço para silenciar nossas angústias…
E, logo, lá estávamos nós, felizes, saudando as famílias que vieram para o nosso café com bolo e alguns sanduíches.
Todos acomodados. Aos poucos, tudo aquilo que havíamos preparado para o encontro, aos poucos, foi ganhando espaço.
As imagens foram apresentadas e observadas, o texto foi lido. Texto e imagens, juntos, serviram como instrumentos de provocação e, a partir disso, lançamos a pergunta-chave:
O que tudo isso desperta em vocês?
Aparentemente tímidos, desconcertados e emocionados, foram soltando as primeiras falas, ainda tomados pelo constrangimento de não saber ao certo o que caberia ou não naquele encontro.
Arriscaram começar pela primeira coisa que disparou no interior de cada um: a lembrança dos filhos e filhas. Curiosos, ainda carregando a marca de uma certa desconfiança nos gestos, nos semblantes...
Cabia a nós, coordenadores do grupo, convidá-los e incentivá-los ao encontro. Como mágica, transformar aquela sala em um espaço de compartilhar.
Nossa principal aliada? A literatura. Mais especificamente, um livro infantil ilustrado,
a história de um menino que descobriu que falava como um rio.
Pois bem. Depois da nossa breve apresentação, contamos um pouco sobre o que originou a ideia do grupo, sobre como surgiu a proposta, e advertimos: “para além de qualquer explicação, o melhor é experienciarmos”.
E assim fomos: de palavras lidas, que se tornaram experiências compartilhadas, até umedecê-las para criar um pequeno rio, ali mesmo, no meio da sala…
O encontro permitiu a circulação da palavra. Não havia ali “profissionais” nem “leigos”. Éramos, todos nós, especialistas das nossas próprias vivências.
O rio só pôde nascer ali porque cada história não era uma poça fechada em si mesma. Todas elas estavam dispostas e disponíveis ao toque e à construção de novos caminhos de sentido a partir da escuta e do acolhimento do outro.
Por fim, como todo novo projeto, o Encontros e Recontos é uma aposta na construção de um espaço coletivo de troca, de compartilhamento e de acolhimento.
Um momento no qual a palavra (lida, falada, escrita,...) se coloca como principal ferramenta para a produção e povoamento…
Nosso primeiro encontro foi com um rio.
O que será que virá no próximo?
Referência:
O livro citado é “Eu falo como um rio" , de Jordan Scott.
Ilustração: Sydney Smith / Tradutores: Julia Bussius / Editora: Pequena Zahar
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