O que fazer após uma leitura literária?

por Carolina Mennocchi

Coordenação do Projeto Bibliotecas 

 

"Eu gosto de delicadeza. Seja nos gestos, nas palavras, nas ações, no jeito de olhar, no dia a dia e até no que não é dito com palavras, mas fica no ar. A delicadeza amolece até a pessoa mais bruta do mundo e disso eu tenho certeza.    Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."  

(Manuel Bandeira)

 A inquietação sempre se repete. 

O que fazer após a leitura de uma obra literária? Qual caminho, família e escola, devem seguir para “certificar” esse momento ? Registros, desenhos, resumos, fichas, provas?

Como dimensionar um imenso gole ainda mal digerido? É possível formalizar a sensação de ruptura, de sermos arrancados dos nossos sentidos, rabiscar aquele sentimento de plenitude, de vivência, após o término de um livro?

O que fazer depois de ler um livro?

Diante de todo o imediatismo e funcionalidade dos tempos contemporâneos, a pergunta persiste: O que fazer depois de ler um livro? Pra que serve? Será que nós, adultos leitores, temos consciência de tudo que pensamos/sentimos quando lemos um bom livro de literatura? Algumas, mas não todas. 

A reflexão é íntima. É possível medir a relação de alguém com um texto? Por quais ruelas e becos um poema pode nos levar? Que pensamentos, devaneios, conhecimentos e  experiências acionamos quando lemos um romance? 

É da condição da arte literária ampliar subjetividades. A força lírica de um texto, seus silêncios, a sua estrutura de construção são infinitos e tangenciam os percursos do indivíduo que lê. A literatura oferece a ocasião de ampliarmos nosso diálogo entre indivíduo e cultura. Eu e o outro. Um alongamento de nossa capacidade de entender o mundo e nele atuar de forma empática. O imenso Umberto Eco nos ensina: 

“[...] a literatura luta contra o efêmero - o efêmero do prazer, do entretenimento, do consumo rápido, aquele que nem bem foi realizado e o mundo já nos acena com mais objetos “necessários”, criando desejos instantâneos, que, consumados, não trazem grande satisfação. A literatura talvez ainda seja o espaço no qual podemos viver a introspecção, o silêncio, a solidão, o pensar sobre nossa condição no fluxo diário da vida. Isso não é pouco.”

É grandioso lutar contra o efêmero

Isso é muito! É grandioso lutar contra o efêmero. Vivemos com nosso estado de plenitude sequestrado por imediatismos e checklists e assim seguimos, empobrecendo as sutilezas. A literatura é então a resistência da alma humana em sua constante luta pelas metáforas. 

Na Escola Viva, seguimos como flautistas, acreditando que precisamos encantar sempre. 

Toda a nossa escolha de mediação literária do 1º ao 9º ano do Fundamental é pautada pelo alargamento da escuta e pela delicadeza da fala, trabalho também conhecido como conversa. Não existe garantia maior para autenticar uma leitura literária do que uma boa conversa, cúmplice e sincera, após terminar a última página de um livro. 

Cada um de nós possui uma forma determinada para expressar seu mundo interior e para se relacionar com o outro. A literatura potencializa essa troca, a conversa abençoa. 

Falar sobre um texto é de alguma forma voltar a lê-lo

O que existe em um texto que me toca profundamente, mas passa despercebido pelo outro? E como não reparei em algo que fez outro leitor apaixonar-se profundamente? 

Perceber o mundo com novos pontos de vista é sempre uma dádiva que nos engrandece como humanidade. A educadora e escritora colombiana Yolanda Reyes atesta nossa crença quando diz:

“ Um professor de leitura é, simplesmente, uma voz que conta; uma mão que abre portas e traça caminhos entre a alma dos textos e a alma dos leitores. (…)  Seu trabalho, como a literatura mesma, é risco e incerteza. Seu ofício privilegiado é, basicamente, ler. E seus textos de leitura não são apenas os livros, mas também os leitores. Não se trata de um ofício, mas de uma atividade de vida. Não figura em dicionários nem nos textos escolares, tampouco no manual de funções, mas pode ser ensinado. E essa atitude será o texto que os alunos irão ler. Quando saírem do colégio e esquecerem datas e nomes, poderão recordar a essência dessas conversas de vida que se teciam entre as linhas. No fundo, os livros são isto: conversas sobre a vida. E é urgente, sobretudo, aprender a conversar.”

Acreditamos imensamente que a conversa com outros leitores possibilita novas construções de sentido. Falar sobre um texto é de alguma forma voltar a lê-lo. Quando conversamos sobre um livro, nos apropriamos dele de outra maneira, reconhecemos e escutamos seu efeito em nós. Decantamos !    Cecilia Bajour declama: 

“O regresso ao texto por meio da conversa sempre traz algo novo. A princípio para quem fala, já que escuta enquanto diz a outros o que o texto suscitou em si e desse modo ensaia a sua leitura como um músico quando lê uma partitura.” 

Nossa 9ª Semana Literária Escola Viva

Para nós a formação de um leitor está além dos estereótipos da escolaridade. Há nove anos ritualizamos nosso evento literário recebendo autores, ilustradores, contadores de histórias, editores, tradutores e roteiristas, para que possam comungar com nossa comunidade suas inspirações, trajetórias, entraves e suor durante o processo criativo. 

Todo o espaço se metamorfoseia e então palavras gulosas, travessas e inquietas se entrelaçam! 

Veja aqui o Álbum de fotos | 9ª Semana Literária Escola Viva (2022)

Enfim, somos por aqui bordadeiros literários! É durante as rodas da biblioteca que espalhamos delicadamente almas de lãs, linhas e linho e seguimos nos alinhavando uns aos outros em desenhos simétricos ou assimétricos, comungando em pontos cruz, cheios, duplos e crivados. São instantes tecendo cumplicidade em bainhas de desabafos ou arremates de riso. A mestre da bordaria, Clarice Lispector, já nos disse: 

“ Pensava eu que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente”.

Nosso bordado é esse: Não chegar a conclusão nenhuma, não ter certeza de nada, não concluir, mas sim partilhar impactos e ampliar conversas catalisadas pela literatura. Entrelaçar o que eu posso com o que você precisa.


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